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“Quem é você?”, perguntou a Lagarta.
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Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: “Eu – eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento – pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.”
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“O que você quer dizer com isso?”, perguntou a Lagarta severamente. “Explique-se!”
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“Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora”, respondeu Alice, “porque eu não sou eu mesma, vê?”
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“Eu não vejo”, retomou a Lagarta.
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“Eu receio que não posso colocar isso mais claramente”, Alice replicou bem polidamente, “porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso.”
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“Não é”, discordou a Lagarta.
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“Bem, talvez você não ache isso ainda”, Alice afirmou, “mas quando você transformar-se em uma crisálida – você irá algum dia, sabe – e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?”
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“Nem um pouco”, disse a Lagarta.
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“Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes”, finalizou Alice, “tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim.”
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“Você!”, disse a Lagarta desdenhosamente. “Quem é você?”
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O que as trouxe novamente para o início da conversação. Alice sentia-se um pouco irritada com a Lagarta fazendo tão pequenas observações e , empertigando-se, disse bem gravemente:”Eu acho que você deveria me dizer quem você é primeiro.”
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“Por quê?”, perguntou a Lagarta.
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Aqui estava outra questão enigmática, e, como Alice não conseguia pensar nenhuma boa razão, e a Lagarta parecia estar muito chateada, a menina despediu-se.
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“Volte”, a Lagarta chamou por ela. “Eu tenho algo importante para dizer!”
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Isso soava promissor, certamente. Alice virou-se e voltou.
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“Mantenha a calma”, disse a Lagarta.
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“Isso é tudo?”, retrucou Alice,engolindo sua raiva o quanto pôde.
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“Não”, respondeu a Lagarta.
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Há muito mais…
A lagarta
Eu não quero mais olhar pra trás e ver que deixei tantas partes de mim perdidas no caminho. Ando buscando entre recortes e arquivos antigos, cada pedaço esquecido, cada sonho adiado, cada passo mal dado. Sei que não posso refazer tudo, remontar cada chance deixada de lado. É impossível. Mas é possível voltar a ter uma postura diferente. Voltar a ser menos Brisa, mais Dalilla, não sei. Não sei bem se é por aí. Mas a vontade de me retomar, de me refazer, de renascer está tão latente em mim que às vezes penso que vou explodir de vontade. E desde quando eu sou pessoa de passar vontade, né? Quem me conhece sabe… Quem me lê também sabe. Nunca fui. Sempre consegui me definir como “uma pessoa movida por vontade”. Me arrepia só de pensar que posso estar me perdendo dentro de mim mesma. Camuflando minha verdade para assumir a verdade mais conveniente… Mais fácil. Eu nunca tive nada fácil e nunca fui uma pessoa fácil. Sou formada em “Fundo do Poço”, pós graduada em “Achar a Mola” e mestre em “Renascer das Cinzas”. Não posso me deixar reprovar justamente nas coisas que mais passei e aprendi na vida. Então esse é o ponto chave: retomada. Cada um que me lê aqui vai entender de uma forma. Uns vão pensar que eu vou pegar minha mochila e sair no mundo sozinha, outros que eu vou buscar uma nova área pra trabalhar. O certo é que pouquíssimas pessoas sabem o processo que opera neste momento dentro de mim. E pense que talvez, apenas talvez, você não seja uma delas.
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A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.
2 respostas para “A lagarta”
wawwww nem sei q post gostei mais!!! ameiiii tudooo
que lindoooo que encantador! q reflexão q tudo de bom! Parabens pelo empenho e talento!
bjinhusss
[…] *Texto da Brisa Dalilja do Entojo. […]