rascunho

rascunho

nunca fui boa em desenhar rostos, mas o seu eu queria gravar de alguma forma. dali a alguns meses você estaria sei lá onde e eu ia ficar aqui apenas com lembranças meio perdidas. e eu sou péssima com isso de lembrar… logo você ia virar um cheiro, sabe? aquele cheiro particular que quando eu sentisse em alguma outra pessoa, me faria lembrar de tudo. e eu queria lembrar é de seus traços, as cavidades e reentrâncias de cada milímetro da sua pele, sua textura… eu queria mais. eu queria mais desde sempre, claro, óbvio, ok. mas “mais” era o que você não podia dar e eu sabia. eu sabia e ainda assim insistia que deveria lembrar de você de alguma forma. rascunhei uns poucos traços com um grafite velho que eu carregava na bolsa, numa folha vazia do caderno que você me deu. sempre foi tão fácil me agradar, né? acho que era mais por você saber exatamente o que fazer pra me agradar. ou saber me ler. saber que aquele espacinho onde eu guardava meus pensamentos era tão ou mais importante que qualquer coisa. era fácil me ler simplesmente porque qualquer coisa que eu escrevesse era um sinal. eu não gosto de desperdiçar palavras. nunca gostei de dizer coisas em vão. mas só você sabia disso. e cada traço a mais que eu desenhava, parecia dizer exatamente isso. exatamente o que eu deveria rascunhar, pra lembrar e remoer quando você partisse: eu nunca encontraria alguém que me descobrisse mais que você, nessa vida.


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