onze anos


De repente ele passou a notar a colega que sentava na cadeira do meio, três filas depois da dele. Não sabia por que, mas de repente o sorriso dela passou a parecer lindo. Nunca haviam conversado mais que três ou quatro frases, sempre em trabalhos de grupo que a professora passava, mas ainda assim sua voz era linda também.

Até os óculos que ela usava davam um ar gracioso à sua face. Reuniu toda a sua (falta) de coragem e pensou um plano: Ela vai me notar! E pensou em estratagemas (Flanquear o adversário é sempre melhor que um ataque frontal, já dizia Sun Tzu). Mudou de cadeira. Sentou ao seu lado. Estava sempre onde ela estava. No pátio do recreio, na fila do lanche. Consertou a postura (Peito pra fora, barriga pra dentro!). Por fim tomou uma atitude. Um bilhete, assim, simples, escrito: Eu gosto de você. Te amo. E assinou, colocou dentro do caderno dela.

No dia seguinte, algo de estranho no ar. As meninas cochichavam e olhavam de soslaio. Os caras, aqueles imbecis que só pensam em bater baba, riam. Ela sentou longe dele. Um silêncio ensurdecedor caiu entre eles na aula de matemática. No intervalo, com a voz inaudível, ele tentou chamá-la para conversar:

– …

Ela, entretanto, disse:

– Ó, não é por nada não, mas gosto de você só como amigo, tá, e não quero estragar a amizade.

E saiu, em direção à merenda, enquanto o rapazote, já novamente com o peito pra dentro e a barriga pra fora, depois de levar o primeiro dos inúmeros foras de sua vida, pensava consigo:

– Foda-se, Sun Tzu.

Edgard Freitas

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