A ENCENAÇÃO

A ENCENAÇÃO

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Olha, vou logo aqui te contar a verdade toda, que eu não sou de enrolação. Eu te enganei. Éééé, enganei mesmo! E enganei bonito. Quando eu comecei com aquele papinho molenga de “vamos tomar um choppinho pra relaxar” eu queria só te comer. É, comer mesmo! Igual a homem sacana que diz que só quer ‘pôr a cabecinha’. Eu te prendi certinho na minha teia. E você ficou com a ilusão de que tava me conquistando. Pobre tolo, ah… Você queria namorar. Eu só queria me divertir. Você queria a mulher pra casar. E eu só estava interessada numa parte específica de sua anatomia… Aquela timidez e o olhar lânguido que você tanto elogiou… Bah! Pura cena. Aquele excesso de pudor (assaz exacerbado), aquele papo de poucos namorados… Tudo balela! E você caiu na conversa do jeitinho que eu queria… Se apaixonou, se encantou… Olha, acho até que me amou! E ó, sério mesmo, eu não te amei nem um pouquinho. Eu estava é me deleitando com toda a encenação. Me deliciei porque estava ganhando um jogo que só eu sabia o enredo. Aliás, te conto mais! Você pagou caro por um crime que não cometeu. Seu primeiro erro foi me olhar e me querer. Errou também por investir na hora errada, onde eu, totalmente puta da vida com outro cara, precisava me vingar. Ah, e me vinguei lindamente! Ele me deixou de lado. Eu te dei a chance de partilhar a mesma cama que eu. Ele me esqueceu. Eu deixei você me ter para apenas afrontá-lo (em pensamento, já que ele não chegaria a saber de nada). Ele me magoou. Eu destruí você quando, após o seu gozo, ordenei que recolhesse suas roupas inúteis e saísse de minha vida. Ele jurou que me amava. Você me amou. E eu? Eu o amava, mas não te amei. E não te amo! Fui má mesmo. Uma boa bisca. E você? Apenas mais uma isca. Olha, sei que não vale mais nada tentar me desculpar. Fiz o que fiz com juízo. Sabendo que iria magoar. Talvez o que faça com que você tenha pena de mim, seja o fim da história. Não deveria te contar o que passei, pois como sofri só eu sei! Depois da noite terminada, virei aquela garrafa de conhaque barato que há tempos guardava. Embebedei sozinha. Fiquei como realmente merecia, deitada no chão daquela cozinha fria e vazia. Me penalizei por ser estupidamente idiota! Por expulsar de forma tão bruta um amor sincero que me bateu à porta. Me penalizei simplesmente por ser quem sou. Doida varrida de alma sombria que só escolhe os caminhos tortos para seguir. Espero que ao ler este texto, você não me maldiga, ou ache que sou o que não espero ser. Ria de minha cara, no máximo. E pode sussurrar entre os dentes que eu mereci. Mereci mesmo. E nada me fará pensar que não devo pagar esse preço…

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Brisa Dalilla
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